Dia roxo: epilepsia acomete 50 milhões de pessoas no mundo

Dia Mundial de Conscientização sobre a Epilepsia, conhecido como Purple Day (Dia Roxo) é celebrado no dia 26 de março para promover a conscientização sobre a doença. A disfunção neurológica crônica acomete mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Pará, o Hospital Ophir Loyola (HOL) realiza a cirurgia para epilepsia refratária, que não apresenta resposta ao tratamento com dois ou mais medicamentos e mantém um ambulatório exclusivo para o atendimento, orientações e acompanhamento dos pacientes.

Somente em 2022, o HOL atendeu 817 pacientes com esta condição médica, que é caracterizada por crises epilépticas de repetição, em consequência de descargas elétricas anormais excessivas no cérebro. De acordo com a neurologista do hospital, dra. Marina Tuma, “as causas são variáveis e incluem alterações na gestação e durante o parto, síndromes genéticas, acidente vascular cerebral (AVC), traumatismos cranioencefálicos, infecções, tumores no cérebro, abuso de bebidas alcoólicas e uso de drogas”.

Os sintomas mais comuns são perda de consciência, espasmos e contrações musculares em todo o corpo, salivação excessiva, mordedura da língua, liberação de esfíncteres urinário ou fecal, e vômitos após a crise. “A convulsão é o tipo de crise mais conhecida, o paciente perde a consciência, cai no chão e sofre abalos fortes nos quatros membros. Existem crises mais fracas, a

exemplo de sustos ou episódios em que a pessoa fica fora do ar, a chamada crise de focal”, informou a especialista.

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Segundo ela, apesar de ainda existir, o preconceito em relação à doença tem diminuído. “As pessoas acreditavam que podia ser uma condição infecto contagiosa e ser transmitida para outras pessoas através do contato próximo ou da saliva. Precisamos trabalhar essa desinformação. A epilepsia não é contagiosa. Isso tem que ser bastante divulgado para que as pessoas saibam que se trata de uma doença não transmissível. É preciso ter empatia”, elucidou a especialista.

Marina Tuma explica que nem toda convulsão é caracterizada como epilepsia. “Algumas pessoas podem ter convulsões por causas ‘reversíveis’, como baixos níveis de açúcar no sangue, baixos níveis de sódio, falência renal e uso de alguns antibióticos. Buscamos sanar essas causas e o paciente não recebe diagnóstico de epilepsia nesses casos”, explicou a especialista.

A dona de casa, Caroline Magno, 28 anos, descobriu um tumor no cérebro aos 14 anos de idade que lhe causou paralisia nos membros superiores e inferiores. “Eu não sabia porque eu tinha ficado sem andar e mexer meus braços. Após os exames descobri o tumor e fui encaminhada ao Ophir Loyola, onde realizei a cirurgia da retirada desse tumor. Fiquei internada por algum tempo, pois eu poderia ficar com alguma sequela”, contou a paciente.

Após três meses de cirurgia, a dona de casa teve a primeira convulsão. “Eu apaguei no banheiro da casa da minha tia. Estava trancada lá dentro, pensei que tivesse tido um AVC. Não lembro como foi, porque toda vez que ocorre uma crise, tenho apagões imediatos. Só me recordo de ter acordado em cima da cama da minha tia, depois fui levada ao hospital, realizei os exames e tive o diagnóstico de epilepsia”, relatou Amanda.

Amanda iniciou o tratamento com fisioterapia no HOL e o acompanhamento neurológico. Com o passar dos anos, ela voltou a sentir os seus membros. “Eu não desisti de tentar voltar a ter meus movimentos, a fisioterapia foi essencial na minha vida. Primeiro eu comecei a sentir a minha perna novamente, depois senti meus braços. Apesar de não ter voltado 100%, hoje consigo andar, movimentar meus membros superiores e realizar as minhas atividades diárias sozinha”, descreveu a dona de casa.

A epilepsia costuma surgir ainda na infância, mas pode acometer pessoas de todas as faixas etárias, inclusive bebês e idosos. O diagnóstico é realizado por um neurologista após a avaliação do histórico clínico e da descrição dos sintomas apresentados por uma pessoa que presenciou a crise do paciente. E fazê-lo de forma adequada permite a escolha do melhor tratamento.

“Para ajudar a caracterizar a doença e determinar as causas da convulsões, podem ser solicitados exames de sangue e de imagem, como eletroencefalograma, tomografia computadorizada, ressonância magnética que avaliam a atividade cerebral ou anormalidades no cérebro”, explica a especialista.

Cerca de 70% dos pacientes ficam sem crises com o tratamento medicamentoso. Alguns fármacos bloqueiam os níveis de sódio e outros atuam como agonistas de neurotransmissores inibitórios. “Os medicamentos antiepilépticos reduzem a excitabilidade do tecido cerebral doente.

Para aqueles que não conseguem um bom resultado com os fármacos, indicamos cirurgia ou terapias alternativas”, informou Marina Tuma.

Há algumas restrições para os pacientes com o distúrbio, é proibido o consumo de bebidas alcoólicas, devem evitar piscinas ou praias desacompanhado, assim como dirigir veículos e trabalhar em atividades que envolvam altura. Deve-se manter a distância de situações que desencadeiam convulsões, como não dormir bem e ficar em ambientes com luzes estroboscópicas, comumente usadas em festas.

“Para prestar socorro alguém que esteja em crise epiléptica, em primeiro lugar é necessário manter a calma, afastar qualquer tipo de objeto próximo, virar a cabeça do paciente para o lado, não colocar nada na boca, deixar o enfermo em um local tranquilo e seguro, e aguardá-lo acordar. Mais de 95% das crises convulsivas ocorrem entre dois e três minutos. Caso a crise dure muito tempo, for seguida por outras ou caso a pessoa não recupere a consciência, deve-se chamar o 192”, ressaltou Marina Tuma.

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