Governo nega negociação com criminosos e afasta servidores da Seap após vazamento de áudio

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) nega qualquer negociação entre o Estado e o crime. Após o vazamento de áudios que apontam uma suposta negociação entre servidores do alto escalão da Seap e integrantes de facção criminosa, os servidores presentes nos áudios foram afastados enquanto o fato é apurado.

Nos áudios, exibidos no Fantástico deste domingo (4), Vicente Neto, tenente-coronel da Polícia Militar do Pará, e Léo 41, um líder de facção criminosa do Rio de Janeiro, conversam por telefone sobre possíveis acordos para encerrar uma série de atentados contra policiais no Pará. O tenente-coronel falou com o líder da facção, por telefone, de dentro de uma cela do Centro de Recuperação Penitenciária, a partir de outros membros da quadrilha.

O Pará vive uma guerra entre criminosos e policiais que trabalham nas cadeias do estado, os chamados ‘policiais penais’, uma categoria que passou a existir no estado em 2019. Em apenas quatro meses, de setembro de 2020, até o dia da ligação com o chefe da quadrilha, aconteceram pelo menos sete atentados e o assassinato de cinco policiais penais.

Vicente Neto, que também é comandante do Cope, o Comando de operações Penitenciárias negocia com o bandido: ‘A gente está providenciando os colchões e a questão do banho de sol, porque isso é garantia que a gente vai conversar com o diretor”, diz o policial no telefonema.

De acordo com a Seap, não houve nenhuma negociação e “a prova disso é que os próprios criminosos do áudio foram transferidos para presídios federais. Já são 67 presos transferidos. Lamentamos profundamente a morte de seis policiais penais”, diz nota enviada ao G1.

Investigações

A comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Pará) defende a investigação do caso.

A Associação Nacional de Policiais Penais (Ageppen – Brasil) quer apuração federal de ataques contra profissionais no Pará. A Ageppen disse que vai recorrer à Procuradoria Geral da República (PGR) para que os crimes contra policiais penais seja investigado na esfera federal.

Jacinto Teles, da associação, diz que “o pleito junto ao MPF, por meio do procurador Geral da República, é no sentido de que todos os crimes, assassinatos ocorridos contra policiais penais sejam apurados pela PF e julgados pelos justiça Federal”.

“Porque no Pará nós não estamos tendo confiança nas investigações, porque é um absurdo que não se tenha notícia, em um ano em que matam policiais no Pará, de investigação conclusiva por parte das instituições policiais, em especial da Polícia Civil Judiciária, e tampouco no meio do sistema penitenciário”, ele conclui.

A Promotoria Militar pediu que a Corregedoria investigue o caso para saber em que circunstâncias os fatos ocorreram e se os manuais de policiamento autorizam esse tipo de negociação, mostrado na reportagem.

“A investigação preliminar sumária objetiva, primeiro, saber em que situação o referido oficial praticou o ato; se ele exercia uma função de natureza militar, e, segundo, saber se dentro dos manuais de policiamento penitenciário existe essa técnica de negociação”, apontou o promotor Armando Brasil.

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