Produção de açaí no Marajó recebe incentivo com apoio técnico da Emater
Além de alimentar uma tradição secular, o açaí movimenta milhares de trabalhadores e a economia, sob o incentivo de políticas públicas do Governo do Estado do Pará, por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), o Pará é o maior produtor de açaí do Brasil, com volume anual de mais de um milhão e 300 mil toneladas, em quase 200 mil hectares de área plantada ou manejada, com uma receita, por ano, de quase R$ 800 milhões e geração de renda para cerca de 150 mil paraenses.
“É uma socioeconomia forte, que ampara cadeias produtivas significativas. Quem está lá na ponta, digamos que no centro da capital, nem imagina o tanto de vida humana, biológica, os recursos naturais, a biodiversidade, e sobretudo, o serviço público que existe em parceria com as populações”, destaca o chefe do escritório da Emater localizado em Melgaço, José Nilton Silva, engenheiro agrônomo e especialista em Agronegócio e em Biocombustíveis.
Foto: Veloso Jr / EmaterNo município situado no arquipélago do Marajó, técnicos do escritório local da Emater percorrem a geografia recortada da zona rural: um desenho de ilhas, assentamentos federais cujas marés de um lado desembocam em praias, e, de outro, constituem várzeas com quilômetros de açaí nativo. A partir da sede do município, o acesso em geral é de 12h de viagem por rabeta nos rios Anapu, Tajapuru e Mapari.
Outra ponta importante nessa cadeia é o fomento financeiro, sob forma de linhas de crédito, por exemplo. Neste mês de fevereiro, 13 famílias de dois assentamentos, Ilha Capinal e Ilha Grande do Laguna, receberam um montante de mais de R$ 400 mil para ampliar a produtividade, com liberação pelo Banco da Amazônia (Basa).
Para o superintendente regional do Pará e Amapá do Banco da Amazônia (Basa), Edmar Bernaldino, o Marajó recebe atenção especial: “A região tem uma forte característica de agricultura sustentável, e nisso assinalamos o extrativismo de açaí, que tem absorvido o maior volume de crédito”, reforça. O gestor afirma que ano passado, foi aplicado em Melgaço R$ 1 milhão para a agricultura familiar.
Incentivo
Um dos contemplados foi o produtor Eliel Faria Souza, com recurso de R$ 33 mil. Ele mora na Vila Mar de Galiléia, comunidade São Francisco do Arienga, na Ilha Carmões, às margens do rio Anapu, dentro do assentamento Laguna, junto com os pais, Manoel José Souza, 70 anos, e Maria Faria, 68 anos.
Segundo o extrativista, em alguns hectares da propriedade, parte do açaí é nativa, e a outra é plantada. “A natureza que Deus dá é muito imensa. A gente até perde a vista, perde a conta”, sorri. Além de açaí, a família trabalha com banana, cacau e cupuaçu.
Ele conta que o apoio da Emater vem sendo essencial: “Posso dizer que mudou a vida, porque é uma coisa inédita. O crédito, então, vai ajudar demais”, conclui.
Na hora da colheita, Eliel e os pais acreditam que estejam fazendo o bem para muitas pessoas: “Estamos alimentando com saúde, riqueza. Eu queria dizer pra quem toma este açaí que ele é colhido com muito carinho e muita dedicação, que a gente coloca nele um conhecimento que vem de justo tempo, dos nossos bisavós”, afirma.
O açaí de Melgaço abastece não só o mercado local, como também o polo Breves e, por meio de atravessadores, é levado para municípios mais distantes, como Belém.
Qualidade
Foto: Veloso Jr / EmaterNa madrugada da Feira do Açaí, no cais do Ver-o-Peso, o barco chega de Breves. Na atracação rotativa de embarcações de muitos cantos do Pará, o açaí do Marajó é rotulado como de primeira linha.
“Aqui é uma indústria que não cessa. Não existe crise para o açaí. Nem a pandemia afundou a economia do açaí. É tipo uma bolsa de valores, sabe? Os preços variam, mas o Real gira”, explica um vendedor que não quis se identificar.
Foto: Veloso Jr / EmaterÀs 4h30 da manhã, os cunhados Breno Maia, 24 anos, e Carlos Gemaque, 44 anos, negociam o produto
“Tem rasa de R$ 60 a R$ 100, dependendo da qualidade. Cada uma dá pra bater uns dez litros, cinco litros se for papa, papa – aí varia a grossura. O açaí bom mesmo é o fresquinho, nativo, de várzea. Ninguém engana ninguém. Só vem gente que conhece mesmo comprar”, detalha Breno, interrompido pelo barulho das transações que exigem atenção. Junta, a dupla conta que vende 300 rasas por feira, em média.
Quem circula para comprar quase sempre são batedores: com lanterninhas específicas ou de celular, eles levantam caroço por caroço, enxergam contra a luz, provam, cospem, analisam.
É no movimento frenético da madrugada, com carrinhos-de-mão empurrados por carregadores que Aldenira Soares, 38 anos, aparece. Ela é batedora de açaí do bairro de Canudos, proprietária do ponto “Açaí Maravilha”, na rua Roso Danin.
“Venho aqui há quatro anos. De princípio eu tinha vergonha, receio, achava perigoso, mas é lugar onde se vende o melhor açaí”, declara.
Texto: Aline Miranda/Ascom Emater, com informações de Alcilene Costa/Ascom BasaPor Luana Laboissiere (SECOM)