Covid causa cerca de 42% das mortes naturais no RJ em abril, maior percentual em um mês desde o início da pandemia

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A Covid-19 foi responsável por 41,95% das mortes naturais registradas no Estado do Rio em abril deste ano, segundo dados do Portal da Transparência do Registro Civil. Esse é o maior percentual registrado desde o início da pandemia: das 16.232 mortes registradas no mês, 6.809 foram causadas pela doença.

O número de mortes relacionadas ao vírus em abril também foi o maior desde o início da pandemia. Maio de 2020 era o mês com o maior número de óbitos por Covid até o momento – foram 6.778.

A base de dados onde foi realizado o levantamento é abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos Cartórios de Registro Civil do país.

Segundo o epidemiologista Bruno Scarpelini, professor e pesquisador na MedPUC Rio de Janeiro, esse é o período mais crítico da pandemia no estado.

“Se olhar a taxa de reprodução do vírus, a maior que a gente teve no Brasil e no Rio de Janeiro foi em abril e maio do ano passado. A taxa de novembro e dezembro foi muito semelhante ao que a gente observa agora. Só que dessa vez, a gente teve um aumento percentual do número de óbitos. Então é o momento mais crítico sim, tanto por número de casos, quanto de mortes”,

Ele fala ainda sobre o efeito da pausa emergencial no Estado do Rio feita há um mês, e o período necessário para que houvesse impactos maiores no combate ao contágio.

“Para flexibilizar as medidas, você precisa de duas semanas em sequência de queda no número de casos e óbitos, e taxas de ocupação abaixo de 70%. A paralisação ajudou, mas para ver um efeito mais robusto sobre o número de óbitos e de casos, uma queda acentuada na cadeia de transmissão, ela tinha que ser feita por, no mínimo, 21 dias”, disse o epidemiologista.

“Pela história da evolução natural da doença, 80% das pessoas vão ter uma síndrome gripal leve, 10 a 15% moderado, 5% grave e 2%, em média, vão falecer. Dados mostram que 2 de cada 3 pacientes que vão para o CTI, para ventilação mecânica, acabam falecendo”, explicou.

Para o infectologista, as altas taxas de ocupação dos hospitais preocupam.

“No caso do Rio, ele é um dos estados com um dos maiores números de internações. E como a taxa de casos que evoluem para gravidade é fixa, em 5%, quanto mais pessoas se infectam, mais pessoas precisam CTI. Então se configura uma situação preocupante, já que os hospitais já estão em colapso, com taxas de ocupação acima de 70%”, afirmou o especialista.

Mortes por Covid no ano

Maio de 2020 tinha sido até o fechamento dos números de abril o maior percentual de óbitos por Covid em relação ao total de mortes (33,5%). Foi também o único mês a registrar mais de 20 mil mortes naturais no período entre março do ano passado e abril deste ano.

Durante a pandemia, a porcentagem das mortes causadas pela Covid variou entre 14% e 33%, exceto abril deste ano, que passou de 40%. Apenas outros três meses ultrapassaram 30%:

  • maio de 2020 (33,5%);
  • dezembro de 2020 (30,45%);
  • março de 2021 (30,46%).

Os dados do portal mostram ainda que os óbitos por Covid representam 22,81% das mortes naturais registradas no Estado do Rio entre março de 2020 e abril deste ano. Dos 202.783 óbitos do período, 46.252 foram causados pela Covid-19.

Segundo o infectologista Bruno Scarpelini, a porcentagem é expressiva, já que “não é de se esperar que uma única causa de morte represente parcela como essa do número de óbitos”.

“Realmente não era esperado, porque o que você tem que olhar são os excessos de óbitos. Então olhamos as mortes extras relacionadas à Covid e vemos justamente esse destaque com uma média que passa de 20%”, afirmou o especialista.

Scarpelini fala sobre a velocidade no aumento do número de mortes que, segundo ele, é maior este ano do que foi no ano passado. Diz também que foi identificada uma diminuição da faixa etária dos internados pela doença.

“Em 2020, a epidemia no país foi mais ritmada, já este ano, as segundas ou terceiras ondas nas cidades aconteceram ao mesmo tempo. E essa rapidez do número de óbitos reflete a intensidade da pandemia no momento, principalmente com uma mudança do perfil epidemiológico”, afirmou o epidemiologista.

“A gente tem visto mais jovens indo para o CTI e até falecendo, mais do que no ano passado. Isso pode ter várias explicações, como a maior exposição desse grupo por trabalho ou por diminuição dos cuidados de isolamento ou até mesmo pelo efeito já da vacina nos grupos prioritários. Ou tudo isso ao mesmo tempo”, completou.

Ainda segundo ele, os percentuais que passaram de 30% em maio, dezembro e marçochamam a atenção.

“Os picos são expressivos e refletem justamente as três curvas que foram vistas no Rio durante esse período de pandemia”, afirmou.

Óbitos no país

Ainda segundo o infectologista, o número de mortes por Covid no Brasil não “diminuiu completamente” em nenhum momento da pandemia.

“O que aconteceu no Brasil, tanto ano passado, quanto esse ano, é que se estabeleceu um patamar alto. Nunca se reduziu completamente o número de casos e óbitos. Então o país ficou com um platô estabilizado, mais baixo. E esse ano, até o momento, ele se estabilizou em um platô mais alto”, disse ele.

Scarpelini menciona ainda um estudo publicado na revista científica The Lancet por especialistas brasileiros, que aponta as estatísticas da mortalidade por Covid no país.

O levantamento foi realizado entre 16 de fevereiro e 15 de agosto de 2020 e tem como objeto as primeiras 250 mil internações hospitalares por Covid no Brasil. Desses internados, 232.036 pacientes (91%) já tinham desfecho hospitalar definido no momento em que os dados foram levantados.

A pesquisa constatou uma mortalidade hospitalar de:

  • 38% (87.515 de 232.036 pacientes) em geral;
  • 59% (47.002 de 79 687) entre os pacientes internados na UTI;
  • 80% (36.046 de 45.205) entre os que foram ventilados mecanicamente.

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