Indígenas aliciados pelo garimpo ilegal no PA voltam a atacar sede de associação contrária à exploração, diz MPF

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O Ministério Público Federal (MPF) voltou a pedir reforço policial urgente em Jacareacanga, no sudoeste do Pará, após a sede de associação de mulheres indígenas ser novamente atacada por um grupo favorável à mineração em terras indígenas. O grupo atacado é contrário à exploração ilegal nas terras protegidas.

O pedido foi feito à Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) e à Polícia Militar.

Segundo o MPF, o novo ataque ocorreu no último domingo, no porto do município. Garimpeiros e representantes de uma “minoria indígena aliciada por garimpeiros” roubaram mais de 830 litros de combustível e um motor de barco da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn.

No final de março, a sede da associação havia sido destruída por representantes do mesmo grupo pró-garimpo. O ataque foi sucedido por protestos dos apoiadores do garimpo contra fiscalizações ambientais.

O MPF informou que um dos líderes da minoria Munduruku favorável ao garimpo, Josias Manhuary, filmou o roubo e postou nas redes sociais. Segundo informações registradas pelo advogado da Associação Wakoborũn, Marco Apolo Santana Leão, no boletim de ocorrência, Josias também tem mandado áudios de ameaças contra outras lideranças contrárias ao garimpo.

Ofício

No ofício enviado à Segup e à Polícia Miliar, o MPF afirmou que alerta que nesta Semana dos Povos Indígenas os representantes da maioria Munduruku contrária à mineração ilegal pretendem realizar assembleia extraordinária, e devem voltar nesta quarta-feira (21) à zona urbana de Jacareacanga, para buscar insumos e combustível, e por isso estão vulneráveis a novos ataques.

“Segundo informações já apuradas, tal ataque integra uma série de articulações planejadas pelos invasores da terra indígena, e que seguem em curso, como tentativa de gerar o silenciamento sobre as ilicitudes presenciadas no território, eis que as lideranças já haviam sido avisadas acerca de represálias, se acaso continuassem a combater invasão e exploração da área indígena”, aponta o ofício.

O documento afirma ainda que “permanece em vigor, portanto, um estado de completa insegurança local para os indígenas que não anuem com práticas reconhecidamente ilícitas, os quais têm sofrido forte repressão por parte de grupos organizados de infratores, que se sentem à vontade para incorrer em crimes, sobretudo para promover atos de violência contra membros da etnia Munduruku”.

No ataque de março, à sede da associação, o grupo pró-garimpo depredou o prédio da Associação Wakoborũn, de uso coletivo com outras organizações indígenas antigarimpo. Foram destruídos documentos, móveis e equipamentos, além de produtos indígenas à venda no local.

De acordo com o MPF, o povo Munduruku vem relatando aumento da invasão garimpeira nas terras indígenas desde o início da década passada, quando foram anunciados vários projetos hidrelétricos na região.

Uma nota técnica do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração alerta que os Munduruku vêm denunciando ao poder público as invasões às suas terras desde 1987.

Segundo a nota, o problema vem se intensificando nos últimos três anos, e em março foi identificada a chegada de maquinário pesado, grupo armado e helicóptero suspeito de escoltar os criminosos, que estão avançando em direção a bacias hidrográficas fundamentais para a garantia da vida indígena.

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