Prefeito de Mariana: ‘Nunca permita que decidam seu futuro sem que você seja ouvido’

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Manchester – Mariana sempre esteve no centro das atenções. Primeira capital mineira, de grande vocação mineradora e muitas polêmicas, a cidade foi a mais arrasada pelo rompimento da Barragem do Fundão, operada pela Samarco, em 2015, no distrito de Bento Rodrigues. Lá, ocorreram as 19 mortes provocadas pelo desastre e quase 700 pessoas aguardam, enquanto vivem em imóveis alugados pela Fundação Renova, por uma casa nova para morar. Antes de Duarte Eustáquio Júnior, de 39 anos, do partido Cidadania, que administra a cidade desde o ano da tragédia e foi reeleito, Mariana teve cinco prefeitos em sete anos, devido a processos de impeachment, necessidade de trocas de presidentes da Câmara que atuaram como gestores municipais interinos e cassações. Um dos candidatos mais influentes, João Ramos Filho, três vezes prefeito, foi assassinado em 2008 antes mesmo da campanha, por outro político que disputava o cargo, Francisco de Assis Carneiro, o Chico da Farmácia, preso e condenado a 14 anos de prisão.

A pressão sobre o mandato de Duarte sempre foi grande devido ao pior desastre socioambiental do país, à situação dos atingidos e ao desemprego no município em função da paralisação da Samarco, responsável por 28% do faturamento marianense. Sob sua administração, a cidade é o maior cliente da ação internacional – de R$ 1,2 bilhão – contra a BHP Billiton, controladora da mineradora ao lado da Vale. Duarte é neto de Geraldo Gonçalves, vereador de Mariana na década de 1960 e filho do ex-vereador Duarte Eustáquio Gonçalves. Formado em direito, casado e pai de três filhos, ele fala ao Estado de Minas sobre as dificuldades enfrentadas, inclusive no próprio município, para acompanhar, depois de uma quarentena de 14 dias, as audiências em Manchester, na Inglaterra, em que mais de 200 mil atingidos pelo desastre tentaram demonstrar que o processo internacional é cabível no Reino Unido, enquanto advogados da multinacional falavam em duplicação de ações e alto custo como argumento evitá-lo. “Estamos vindo no país da BHP dizer para a empresa que tem que respeitar as pessoas que ela atingiu”, afirma, ao comentar a importância da ação. A decisão da Justiça deve sair no próximo mês. Duarte Junior fala ainda do enfrentamento à COVID-19 no município que administra e de seus planos políticos.Prefeito, como foi enfrentar as resistências que teve ao deixar Mariana em plena pandemia da COVID-19 para acompanhar, em Manchester, as audiências sobre a jurisdição do Reino Unido para julgar ação internacional contra a BHP Billiton?Foi um pouco complexo. No início, a Câmara Municipal questionou minha ida até o Reino Unido. Mas, com o passar dos dias, tenho certeza de que todos vão entender a importância de estar presente. A nossa presença em Manchester mostrou para a corte nosso desejo de que a ação seja julgada no Reino Unido.

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